Em Deus Confiámos - A Tômbola
- Por favor, queiram seguir-me.
Entrara na sala sem que eles o sentissem e movia-se como se flutuasse, parecendo tocar o chão mas nunca chegando a tocá-lo.
As três pessoas levantaram-se, mudas, e seguiram-no. Ele subiu os cinco degraus e abriu a porta. O que entrou na sala era um ruído composto de muitas coisas ao mesmo tempo: vozes e risos, líquidos que gorgolejavam, trinados de pássaros e alegria. Entrou também uma brisa suave que trouxe um odor verdadeiro de ar livre.
Passaram um a um pela porta. Do outro lado havia tudo: árvores em fundo, pintando de verde a base do céu, e à frente deles um tapete de relva martirizada por muitos pés.
Entraram na multidão indiferente, sempre seguindo o guia. Este só se deteve diante de um pequeno grupo de três pessoas que estavam vestidas de forma bizarra. Só alguns momentos depois lhes deram atenção.
- Ah, voltou! Trouxe-os todos?
O homem respondeu afirmativamente.
- Este deve ser Roger Dipwater. Muito prazer. E esta senhora é concerteza Miss Tillman. Como está? E você é Kurt Edel, não é verdade?
Edel confirmou com um movimento de cabeça.
- Permitam que lhes apresente – pôs a mão no ombro do homem à sua direita – o Arcanjo Gabriel (o Arcanjo Gabriel cofiou a longa barba), e este aqui – voltou-se para o outro homem – é Jesus Cristo (Jesus esboçou um sorriso tímido). Eu sou Deus.
Antes que esboçassem qualquer reacção ele continuou a falar.
- Nada de perguntas, por favor. Detesto perguntas. É quem vos criou que vos ordena!! Não façam perguntas e gozem a festa. Anjo, eles já têm um número para a tômbola? Não?! Então leve-os até lá, eles têm de ter um número.
Roger Dipwater já a vira, branca, coberta de números, ocultando um pedaço de céu. Uma pequena multidão rodeava-a como se lhe prestasse adoração.
Dipwater falou:
- Ouça lá, anjo. Que raio vem a ser isto? Para onde é que nos trouxeram?
- Para a festa da tômbola.
- Mas onde estamos? – perguntou Karen.
- No Jardim do Éden.
- O quê?! – explodiu Edel, agarrando no homem pelos colarinhos – E se acabássemos com a brincadeira?
O anjo não perdeu a compostura.
- Acha mesmo que tudo isto é uma brincadeira, Mr. Edel?
Ele pousou-o.
- Aqui têm os vossos números para o sorteio.
Deu-lhes um pedaço de papel a cada um, e cada pedaço de papel tinha um número.
- Para que é isto? – interrogou-o Roger.
- O número para o sorteio. Serão sorteados três números para a caçada.
Roger Dipwater riu-se para si próprio, interiormente, de toda aquela situação absurda. Começava a sentir medo.
- Vamos embora daqui – disse.
- E por onde? A porta por onde viemos desapareceu! Acho melhor esperarmos e ver o que acontece.
- Karen tem razão – assentiu Kurt.
- Meus senhores, meus senhores, silêncio.
Deus subira ao palanque e anunciava o sorteio. A tômbola rodou divinamente e quedou-se num número.
Era o número de Roger Dipwater...
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